segunda-feira, 16 de abril de 2012

A REALIDADE QUE MOVE MONTANHAS


Comprei um livro neste fim de semana que eu estava namorando há tempos – “The Magic of Reality: How We Know What’s Really True” (em português "A Magia da Realidade", publicado pela Companhia das Letras.)

Para quem não sabe, é um esforço conjunto do Richard Dawkins – o evolucionista e biólogo britânico que todo mundo cisma em rotular meramente de “o ateu mais famoso do mundo” – e do ilustrador Dave McKean – criador das espetaculares capas da série de histórias em quadrinhos Sandman.

O livro é voltado para o publico juvenil e simplesmente explica as coisas à nossa volta de maneira clara e didática, mostrando o quanto é desnecessário recorrer a teorias etéreas e divinas para entender o motivo da vida, do universo e tudo mais.

É um livro delicioso de ler, e a experiência se torna ainda mais especial graças ao incrível talento artístico do McKean.

Aos que querem se livrar de dogmas e dos ferrolhos da fé cega, “A Magia da Realidade” é um belíssimo abridor de portas. Leiam.

Com certeza, isso deveria ser parte obrigatória de qualquer currículo escolar que se preze.

domingo, 15 de abril de 2012

F1 2012 - GP DA CHINA

Em um evento de 2011, Nico Rosberg pilotou a Mercedes que era de
Juan Manuel Fangio. Mal imaginava ele na época que caberia ao jovem
piloto
alemão levar a equipe de volta às vitórias 56 anos depois.


Nico Rosberg levou a Mercedes à pole e depois seguiu para ganhar praticamente de ponta a ponta o Grande Prêmio da China na magrugada de domingo.

Costumo dizer que, para fazer com que você assista a uma corrida às 4 da manhã, o mínimo que a prova tem que ser é interessante, divertida, memorável.

Pois o GP da China não foi uma boa corrida. Muito pelo contrário, guardou todas as brigas e ultrapassagens para as últimas voltas e foi definida muito mais na base da estratégia do que de disuptas na pista. Mas foi memorável pelo resultado. Foi a primeira vez desde o GP da Itália de 1955 que a equipe Mercedes ganhou uma corrida de Fórmula-1.

Naquela ocasião, Juan Manuel Fangio fez a pole e venceu a corrida, no que seria a última participação das flechas de prata da categoria até 2010, e a Fórmula-1 precisou esperar exatos 56 anos, 7 meses e 4 dias para que isso ocorresse novamente.

Além disso, com a vitória, Rosberg se junta a um clube exclusivíssimo – o dos pais e filhos vitoriososo na Fórmula-1. Antes dele, apenas dois filhos de pilotos vencedores conseguiram replicar as vitórias de seus pais nas pistas – Damon Hill (filho de Graham Hill) e Jacques Villeneuve (filho do lendário Gilles).

Bacana o resultado, mas pena a corrida ter sido tão morna. Ela prometia ser interessante, especialmente depois que o segundo lugar no grid Lewis Hamilton foi punido pela troca de sua caixa de câmbio, tendo que largar em sétimo.

Isso fez com que tivéssemos uma primeira fila da Mercedes e, com Rosberg e Schumacher mantendo suas posições após a largada, a grande questão se tornou adivinhar o momento em que os carros prateados começariam a perder rendimento e deixar quem estava atrás passar para estabelecer a ordem natural das coisas.

Mas fora o abandono de Schumacher (por um erro da equipe durante sua parada), a Mercedes se manteve rápida pela prova toda e, de verdade, não deu muitas chances aos outros competidores.

As McLaren andaram bem e, não fosse a punição de Hamilton e um erro grotesco da equipe durante o pit-stop de Button, quem sabe o resultado não teria sido outro.

As Lotus estavam velozes, com Raikkonen fazendo boa corrida e tentando uma estratégia que poderia ter dado certo, mas que acabou dando errado. Todo mundo achava que o finlandês pararia mais uma vez para trocar seus pneus na etapa final da corrida, mas de repente ficou claro que ele não iria fazer isso.

Àquela altura, ele estava num surpreendente segundo lugar, rebocando uma fila que tinha Vettel, Button, Hamilton e Webber. O finalndês suportou o ataque de Vettel durante quase 10 voltas, mas aí seus pneus ficaram com a aderência de um Band-Aid ensopado e todo mundo passou, fazendo com que ele terminasse num melancólico 14º lugar. Se eu fosse ele, naquele ponto teria entrado nos boxes e feito uma troca, só para poder voltar e fazer a volta mais rápida. Mas eu sou eu, não ele.

Falei do Vettel e, apesar da Red Bull estar a uma boa distância dos carrões que tinha nos últimos anos, a equipe austríaca ainda não pode ser considerada carta fora do baralho. Webber terminou em 4º, logo à frente de Vettel, e ambos fizeram corridas combativas e aguerridas – vale lembrar que Vettel largou lá atrás em 12º.

A Ferrari, única equipe que corre com um só piloto, fez o que pôde com um carro fraco e claramente inferior aos demais. Li na revista AutoSprint italiana, se não me engano, que há um tal de Felipe Massa correndo pela equipe também, mas isso não se reflete nas pistas e nem na pontuação do campeonato. De todas as equipes, menos as do chamado "pelotão bost", só Massa não conseguiu ainda marcar um único ponto. Pensando que Alonso pontuou em todas as corridas e tem até vitória, o desempenho de Massa é inadmissível e, como disse na última corrida, não é o tipo de situação que a Casa di Maranello costuma tratar com paciência e compreensão (lembre-se que os caras já tiveram a manha de despedir o PROST).

A sensação da última corrida, Sergio Perez, não conseguiu replicar sua brilhante atualção nesta prova, mas correu bem e protagonizou um dos poucos momentos tensos da prova ao quase tocar rodas com seu companheiro Kamui Kobayashi a 300km/h na reta. O “quase” foi providencial para evitar um desastre.

Aí o que resta, então, é fazer uma análise do que esta temporada ainda tem pela frente e tentar arriscar algum prognóstico.
• Tivemos 3 vitórias de 3 equipes diferentes – McLaren, Ferrari e Mercedes (quase tivemos uma da Sauber)
• O líder do campeonato é o Hamilton, que não ganhou nenhuma delas, chegando em 3º nas 3 corridas.
• A equipe bicho-papão do ano passado Red Bull conseguiu um único pódio até agora – o 2º lugar de Vettel na prova inaugural.
• Com 17 pilotos pontuando nas primeiras 3 provas, só as equipes nanicas – e Felipe Massa – não entraram na zona de pontuação até agora, demonstrando que a categoria parece estar muito mais equilibrada do que em anos anteriores.

Vamos ver o que acontece, porque tudo ainda parece estar meio embaçado na bola de cristal para 2012. Mas se tiver que jogar minhas fichas em alguém, seria na McLaren. E se eu tivesse que optar entre os pilotos, apesar de ser descaradamente fã do estilo inteligente do Button, o Hamilton me parece ter reencontrado uma constância e equilíbrio que eu não via desde aquela sua impressionante temporada de estreia na Fórmula-1. Enfim, o tempo dirá.

Agora, vamos (se é que vamos mesmo) para o Bahrein, onde os protestos populares e a instabilidade política continuam se agravando a cada novo dia. Sou apaixonado pela Fórmula-1, e a ideia de uma prova a menos na temporada evidentemente me causa tristeza. Mas cá entre nós, com mensagens de boas-vindas tão diretas como a de baixo espalhadas por todo o país, será que realmente vale a pena correr o risco?