sexta-feira, 26 de maio de 2017

UMA RECLAMAÇÃO FORMAL CONTRA O CASUAL FRIDAY



Acho que o conceito do "causal Friday" me incomodaria menos se profissões que não usam 
terno e gravata no dia a dia, como jogadores de futebol, por exemplo, tivessem que usá-los às sextas.
Seria o chamado "formal Friday". 

Sempre tive problemas com o conceito de “casual Friday” adotado por algumas empresas. Ouvi hoje na Band News o relato de um ouvinte que estava comemorando a decisão da diretoria do banco em que ele trabalha de permitir que os funcionários não precisem usar gravata às sextas. 

Essa decisão pra mim não faz o menor sentido. A ideia de um traje obrigatório no trabalho indica uma necessidade. É como o jaleco branco usado por médicos em um hospital, o uniforme dos policiais, ou as roupas de proteção usadas por quem trabalha em um laboratório de metanfetamina.

Não existe “casual Friday” pra essas pessoas, pelo simples fato de que as roupas que eles usam no dia a dia têm um porquê. Um astronauta não pode optar por sair da estação espacial para fazer um reparo lá fora vestindo uma camiseta polo e jeans só porque é sexta-feira. 

Mas no mundo corporativo a gente acha isso normal. Achamos que tudo bem irmos ao banco na sexta e sermos atendidos por um caixa ou gerente que não esteja usando gravata, porque afinal hoje é sexta-feira. Mas ai do cara se ele ousar fazer isso numa terça ou quinta, porque aí ficaríamos profundamente ofendidos pela falta de profissionalismo do sujeito. 

A simples existência do “casual Friday” mostra que o mundo corporativo já entendeu que ninguém gosta de usar gravata, senão não seria necessário dar um dia de “alívio” aos funcionários. Imagina você entrar numa empresa e a primeira coisa que te dão é uma cueca de espinhos. Aí, percebendo o olhar de horror no seu rosto, o seu chefe te tranquiliza dizendo que “eu sei, é horrível, né? Mas e se eu te dissesse que na sexta você pode usar uma cueca normal, de algodão. Aí fica menos horrível, né?”

Guardadas as devidas proporções, o mesmo vale pra gravata. Se trabalhar sem ela é permitido em um dia e ninguém morre por causa disso, por que é que isso não é liberado também para os outros dias da semana?

sexta-feira, 7 de abril de 2017

PONTO PRA QUEM MERECE

Em um universo paralelo, apenas o 14° colocado ganha pontos na Fórmula 1. 
Nesse universo, o campeão de 2016 foi o Kevin Magnussen, e não o Nico Rosberg. 
Particularmente, ainda estou tentando decidir em qual dos dois universos 
eu preferiria estar.

Fazia muito, muito, MUITO tempo que eu não postava nada aqui (uns 3 anos), a ponto de eu mesmo considerar este blog morto. Mas hoje me deparei com um site que tem algo que eu sempre sonhava em fazer, mas nunca tive o know-how necessário – na verdade, o termo correto é que eu sempre tive preguiça de descobrir o know-how, porque com a quantidade de informação e tutoriais disponíveis na internet e no YouTube, não existe mais o "não sei como fazer", só o "ah, outro dia eu descubro".

Enfim, o site em questão classifica todos os pilotos da história da Fórmula 1 de acordo com sua pontuação nas corridas.

"OK", você deve estar pensando, "grandes porcarias. Isso sempre existiu. Qualquer pesquisa rápida no Gugo mostra uma lista atualizada." O problema é que, quando você faz isso, se depara com o seguinte:

Aí a primeira pergunta que surge é: "Ué! O Schumacher, maior ganhador da categoria, com NOVENTA E UMA vitórias e SETE TÍTULOS MUNDIAIS, está só em quinto lugar? Atrás do Rosberg, que tem 23 vitórias e um único título? O que ocorre?"

Ocorre que o sistema atual de pontuação – 25 pontos para o ganhador, 18 para o 2°, 15 para o 3°, 12 para o 4°, 10 para o 5°, 8 para o 6°, 6 para o 7°, 4 para o 8°, 2 para o 9° e 1 para o 10° – foi introduzido em 2010. 

Antes disso, o sistema era bem mais enxuto, com apenas 10 pontos para o ganhador, 6 para o 2°, 4 para o 3°, 3 para o 4°, 2 para o 5° e 1 para o 6°.

Na verdade, antes dessa mudança, o sistema de pontuação já havia sido alterado inúmeras vezes, mas nunca de forma tão radical. Para se ter uma ideia, o sistema utilizado lá em 1950 era de 8 pontos para o ganhador, 6 para o 2°, 3 para o 4° e 2 para o 5°, com um ponto extra para o piloto que tivesse feito a volta mais rápida. 

Com poucas mudanças aqui e ali – tipo aumentar o número de pontos do ganhador de 8 para 9 na década de 60, e depois para 10 nos anos 90 – o resto dos pontos permaneceram praticamente os mesmos até 2003, quando alteraram a distribuição para que até o 8° colocado ganhasse ponto na corrida: 10 pontos para o 1°, 8 para o 2°, 6 para o 3°, 5 para o 4°, 4 para o 5°, 3 para o 6°, 2 para o 7° e 1 para o 8°.

Até certo ponto, foi uma mudança considerável quando comparamos com 1950 – os 8 pontos que o Fangio ganhava pela sua vitória agora seriam os mesmos que o Barrichello ganharia pelo seu inevitável 2° lugar – mas por outro lado, também não era uma ruptura completa com o sistema e, se alguém perguntasse para você qual o piloto que com mais pontos na Fórmula 1, uma forma inteligente de acertar o palpite seria usar o número de vitórias para ter um indicativo do piloto mais bem-sucedido.

Só que isso tudo mudou em 2010, quando o sistema de pontuação foi alterado radicalmente. Agora, os DEZ primeiros colocados ganhariam pontos, e eles seriam distribuídos da seguinte maneira: 25 para o 1°, 18 para o 2°, 15 para o 3°, 12 para o 4°, 10 para o 5°, 8 para o 6°, 6 para o 7°, 4 para o 8°, 2 para o 9° e 1 para o 10°.

Para ter uma ideia do que isso significa na prática, para ganhar o mesmo número de pontos que uma única vitória oferece nos dias de hoje, o Fangio teria que ganhar 3 corridas em 1950 e ainda fazer a melhor volta em uma delas. Com esse tipo de diferença, é óbvio que o conceito de pontos totais na Fórmula 1 virou um número vazio, que acaba não sendo representativo de 85% das corridas já realizadas até hoje, que atribuíam entre 8 a 10 pontos ao ganhador.

Por exemplo, olhando apenas o total de pontos acima, é fato que:
  • Com apenas duas temporadas completas, o Max Verstappen já tem mais pontos do que 15 campeões mundiais;
  • O Grosjean – essencialmente “nada” em forma de piloto de Fórmula 1 – é o 26° piloto com mais pontos na história;
  • Para superar o número de pontos do Barrichello, seu compatriota Ayrton Senna teria que ter ganho 5 provas a mais na década de 90;
  • Em 2010, depois de uma temporada burocrática, em que foi obliterado pelo companheiro de equipe Fernando Alonso e não ganhou uma única corrida, Felipe Massa fez o mesmo número de pontos que Michael Schumacher havia feito em 2002, só que naquela temporada o alemão foi ao pódio em TODAS as corridas da temporada e ele foi campeão com quase o dobro de pontos do segundo lugar, Rubens Barrichello;
  • Mesmo com seus CINCO títulos mundiais, o Fangio não está nem entre os 30 maiores pontuadores da categoria (está em 32°).
Em outras palavras, o total de pontos não serve pra nada, e isso é algo que sempre me angustiou profundamente (por "sempre", entenda-se desde 2010).

Porque afinal um total de pontos DEVERIA servir para alguma coisa, ser representativo dos pilotos que mais ganharam e mais foram ao pódio. Então percebi que era a hora de fazer alguma coisa para reparar essa distorção e, no final de 2010, decidi que montaria um site com estatísticas atualizadas a cada nova corrida, mostrando uma classificação histórica em que os mesmos critérios valessem para todos os pilotos, de todas as épocas.

Ou seja, pegaríamos todos os resultados, desde o primeiro grande prêmio, realizado em Silverstone em 1950, e atribuiríamos aos pilotos a mesma pontuação que é dada hoje, resultando em um ranking muito mais justo e representativo.

Sete anos depois, eu ainda não havia feito isso por causa da já conhecida preguiça, mas aí hoje eu descobri que nem todo mundo padece do mesmo mal. Este site bacana fez exatamente o que eu posterguei durante quase uma década e produziu o tal ranking histórico, permitindo ainda que você escolha qual o tipo de pontuação que deseja usar dentre todas as variantes já usadas no campeonato. 

Por exemplo, olha como seria o ranking de todos os tempos se todas as corridas tivessem utilizado a pontuação que usamos hoje:


Aparentemente agora tudo faz sentido, porque o Schumacher está em primeiro, mas quando analisamos um pouco mais a fundo, percebemos o quanto a pontuação é um mero "detalhe" na Fórmula 1.

Digo isso porque, mesmo nesse que é o mais justo dos rankings de pontuação, uma coisa não muda: apesar de seus CINCO títulos mundiais, o Fangio não está nem entre os 30 maiores pontuadores da categoria.

É um dado curioso, mas com uma explicação bem simples. 

Sabe o Max Verstappen, que tem apenas duas temporadas completas e já tem mais pontos do que 15 campeões mundiais? Pois até o meio desta temporada ele supera o total de corridas que o Fangio fez durante TODA A CARREIRA.

Ou seja, se em 1950 tivemos apenas 7 grandes prêmios, hoje temos VINTE, e aí fica bem mais fácil para um piloto acumular pontos, né não?

Mas olha só como muda tudo se a gente calcula o número de pontos versus a quantidade de corridas (a conhecida MÉDIA DE PONTOS):


Olha o pessoal dos anos 50 e 60 aí de novo!

Outra coisa é que dá pra perceber o quanto o Hamilton se beneficiou (e beneficia) de ter estado sempre em uma equipe de ponta, e de como talvez tivesse sido uma boa ideia para o Schumacher ter mantido sua aposentadoria depois da Ferrari e evitado aqueles 3 anos de fiasco na Mercedes.

Enfim, muito interessante o site (pra quem ama Fórmula 1).

Mas o link está lá em cima, então não vou ficar postando gráfico após gráfico aqui, porque é só você ir no site e fuçar à vontade.

Mas antes de ir embora para voltar sei lá quando com um post novo, vale falar de um último recurso interessante que o site tem. Ele permite que você atribua sua própria pontuação às provas para ver como determinada temporada se desenrolaria nesse cenário específico. 

Por exemplo, se você quiser criar um campeonato em que apenas o 14° lugar ganhe pontos, o resultado está na imagem que abre este post.

Mas confesso que, quando vi esse recurso, na hora pensei naquela temporada fantástica do Schumacher em 2002. Já pensou se a gente mudasse a pontuação pra que todas as posições de chegada - do 1° ao 20° - ganhassem 1 ponto cada, mas atribuísse 10 pontos só para o SEGUNDO colocado? 

Aí o nosso eterno vice, o REI DO SEGUNDO LUGAR, finalmente teria chance de se sagrar campeão do mundo, né?

Vamos ver o que acontece:


Nuoss... Nem assim?