Em um universo paralelo, apenas o 14° colocado ganha pontos na Fórmula 1.
Nesse universo, o campeão de 2016 foi o Kevin Magnussen, e não o Nico Rosberg.
Particularmente, ainda estou tentando decidir em qual dos dois universos
eu preferiria estar.
Fazia
muito, muito, MUITO tempo que eu não postava nada aqui (uns 3 anos), a ponto de eu mesmo
considerar este blog morto. Mas hoje me deparei com um site que tem algo que eu
sempre sonhava em fazer, mas nunca tive o know-how necessário – na verdade, o
termo correto é que eu sempre tive preguiça de descobrir o know-how, porque com
a quantidade de informação e tutoriais disponíveis na internet e no YouTube, não
existe mais o "não sei como fazer", só o "ah, outro dia eu descubro".
Enfim, o
site em questão classifica todos os pilotos da história da Fórmula 1 de acordo
com sua pontuação nas corridas.
"OK", você
deve estar pensando, "grandes porcarias. Isso sempre existiu. Qualquer pesquisa
rápida no Gugo mostra uma lista atualizada." O problema é que, quando você faz
isso, se depara com o seguinte:
Aí a
primeira pergunta que surge é: "Ué! O Schumacher, maior ganhador da categoria,
com NOVENTA E UMA vitórias e SETE TÍTULOS MUNDIAIS, está só em quinto lugar?
Atrás do Rosberg, que tem 23 vitórias e um único título? O que ocorre?"
Ocorre que
o sistema atual de pontuação – 25 pontos para o ganhador, 18 para o 2°, 15 para
o 3°, 12 para o 4°, 10 para o 5°, 8 para o 6°, 6 para o 7°, 4 para o 8°, 2 para
o 9° e 1 para o 10° – foi introduzido em 2010.
Antes disso, o sistema era bem
mais enxuto, com apenas 10 pontos para o ganhador, 6 para o 2°, 4 para o 3°, 3
para o 4°, 2 para o 5° e 1 para o 6°.
Na verdade,
antes dessa mudança, o sistema de pontuação já havia sido alterado inúmeras
vezes, mas nunca de forma tão radical. Para se ter uma ideia, o sistema
utilizado lá em 1950 era de 8 pontos para o ganhador, 6 para o 2°, 3 para o 4°
e 2 para o 5°, com um ponto extra para o piloto que tivesse feito a volta mais
rápida.
Com poucas mudanças aqui e ali – tipo aumentar o número de pontos do
ganhador de 8 para 9 na década de 60, e depois para 10 nos anos 90 – o resto
dos pontos permaneceram praticamente os mesmos até 2003, quando alteraram a
distribuição para que até o 8° colocado ganhasse ponto na corrida: 10 pontos
para o 1°, 8 para o 2°, 6 para o 3°, 5 para o 4°, 4 para o 5°, 3 para o 6°, 2
para o 7° e 1 para o 8°.
Até certo
ponto, foi uma mudança considerável quando comparamos com 1950 – os 8 pontos que
o Fangio ganhava pela sua vitória agora seriam os mesmos que o Barrichello
ganharia pelo seu inevitável 2° lugar – mas por outro lado, também não era uma
ruptura completa com o sistema e, se alguém perguntasse para você qual o piloto
que com mais pontos na Fórmula 1, uma forma inteligente de acertar o palpite seria usar o número de vitórias para ter um indicativo do piloto mais bem-sucedido.
Só que isso
tudo mudou em 2010, quando o sistema de pontuação foi alterado radicalmente.
Agora, os DEZ primeiros colocados ganhariam pontos, e eles seriam distribuídos
da seguinte maneira: 25 para o 1°, 18 para o 2°, 15 para o 3°, 12 para o 4°, 10
para o 5°, 8 para o 6°, 6 para o 7°, 4 para o 8°, 2 para o 9° e 1 para o 10°.
Para ter
uma ideia do que isso significa na prática, para ganhar o mesmo número de
pontos que uma única vitória oferece nos dias de hoje, o Fangio teria que ganhar 3
corridas em 1950 e ainda fazer a melhor volta em uma delas. Com esse tipo de
diferença, é óbvio que o conceito de pontos totais na Fórmula 1 virou um número
vazio, que acaba não sendo representativo de 85% das corridas já realizadas até hoje, que atribuíam entre 8 a 10 pontos ao ganhador.
Por
exemplo, olhando apenas o total de pontos acima, é fato que:
- Com
apenas duas temporadas completas, o Max Verstappen já tem mais pontos do que 15
campeões mundiais;
- O
Grosjean – essencialmente “nada” em forma de piloto de Fórmula 1 – é o 26° piloto
com mais pontos na história;
- Para
superar o número de pontos do Barrichello, seu compatriota Ayrton Senna teria
que ter ganho 5 provas a mais na década de 90;
- Em
2010, depois de uma temporada burocrática, em que foi obliterado pelo
companheiro de equipe Fernando Alonso e não ganhou uma única corrida, Felipe
Massa fez o mesmo número de pontos que Michael Schumacher havia feito em 2002, só
que naquela temporada o alemão foi ao pódio em TODAS as corridas da temporada e
ele foi campeão com quase o dobro de pontos do segundo lugar, Rubens
Barrichello;
- Mesmo
com seus CINCO títulos mundiais, o Fangio não está nem entre os 30 maiores
pontuadores da categoria (está em 32°).
Em outras
palavras, o total de pontos não serve pra nada, e isso é algo que sempre me
angustiou profundamente (por "sempre", entenda-se desde 2010).
Porque afinal
um total de pontos DEVERIA servir para alguma coisa, ser representativo dos
pilotos que mais ganharam e mais foram ao pódio. Então percebi que era a hora
de fazer alguma coisa para reparar essa distorção e, no final de 2010, decidi que
montaria um site com estatísticas atualizadas a cada nova corrida, mostrando
uma classificação histórica em que os mesmos critérios valessem para todos os
pilotos, de todas as épocas.
Ou seja,
pegaríamos todos os resultados, desde o primeiro grande prêmio, realizado em Silverstone
em 1950, e atribuiríamos aos pilotos a mesma pontuação que é dada hoje,
resultando em um ranking muito mais justo e representativo.
Sete anos
depois, eu ainda não havia feito isso por causa da já conhecida preguiça, mas
aí hoje eu descobri que nem todo mundo padece do mesmo mal. Este site bacana fez exatamente o que eu posterguei durante quase uma década e produziu o tal
ranking histórico, permitindo ainda que você escolha qual o tipo de pontuação que
deseja usar dentre todas as variantes já usadas no campeonato.
Por exemplo, olha como seria o ranking de todos os tempos se todas as corridas tivessem utilizado a pontuação que usamos hoje:
Aparentemente agora tudo faz sentido, porque o Schumacher está em primeiro, mas quando analisamos um pouco mais a fundo, percebemos o
quanto a pontuação é um mero "detalhe" na Fórmula 1.
Digo isso porque,
mesmo nesse que é o mais justo dos rankings de pontuação, uma coisa não muda: apesar de seus CINCO títulos mundiais, o Fangio não está nem entre os 30 maiores
pontuadores da categoria.
É um dado
curioso, mas com uma explicação bem simples.
Sabe o Max Verstappen, que tem
apenas duas temporadas completas e já tem mais pontos do que 15 campeões
mundiais? Pois até o meio desta temporada ele supera o total de corridas que o
Fangio fez durante TODA A CARREIRA.
Ou seja, se em 1950 tivemos apenas 7 grandes prêmios, hoje temos VINTE, e aí fica bem mais fácil para um piloto acumular pontos, né não?
Mas olha só
como muda tudo se a gente calcula o número de pontos versus a quantidade de
corridas (a conhecida MÉDIA DE PONTOS):
Olha o pessoal dos anos 50 e 60 aí de novo!
Outra coisa é que dá pra perceber o quanto o Hamilton se beneficiou (e beneficia) de ter estado sempre em uma equipe de ponta, e de como talvez tivesse sido uma boa ideia para o Schumacher ter mantido sua aposentadoria depois da Ferrari e evitado aqueles 3 anos de fiasco na Mercedes.
Enfim,
muito interessante o site (pra quem ama Fórmula 1).
Mas o link está lá em cima, então não vou ficar
postando gráfico após gráfico aqui, porque é só você ir no site e fuçar à vontade.
Mas antes de ir embora para voltar sei lá quando com um post novo, vale falar de um
último recurso interessante que o site tem. Ele permite que você atribua sua própria pontuação
às provas para ver como determinada temporada se desenrolaria nesse cenário específico.
Por exemplo, se você quiser criar um campeonato em que apenas o 14° lugar ganhe pontos, o resultado está na imagem que abre este post.
Mas confesso que, quando vi esse recurso, na hora pensei naquela temporada fantástica do Schumacher em 2002. Já pensou se a
gente mudasse a pontuação pra que todas as posições de chegada - do 1° ao 20° - ganhassem 1 ponto cada, mas atribuísse 10 pontos só para o SEGUNDO colocado?
Aí o nosso eterno vice, o REI DO SEGUNDO LUGAR, finalmente teria chance de se sagrar campeão do mundo, né?
Vamos ver o
que acontece:
Nuoss... Nem
assim?