Representação artística de como seria o uniforme canarinho se o Brasil realmente contabilizasse todas
suas conquistas no futebol, incluindo o futebol masculino, o feminino, o de areia e o futsal.
Muita gente está revoltada com a CBF pelo fato de que, mesmo
sem nunca ter levantado uma copa do mundo da FIFA, a equipe feminina de futebol
do Brasil está jogando com cinco estrelas acima do escudo na camisa, estrelas
estas que celebram os cinco títulos da equipe masculina nas copas do mundo
(1958, 1962, 1970, 1994 e 2002).
De fato, as outras equipes da competição distinguem suas
equipes femininas e masculinas no que diz respeito ao número de estrelas nas
suas camisas. Por exemplo, apesar de a equipe masculina da Alemanha ostentar
suas quatro estrelas, a equipe feminina conta com duas, referentes aos títulos
de 2003 e 2007.
A equipe dos EUA, a mais bem-sucedida do torneio, conta com
três estrelas e, em breve, deve incluir uma quarta em virtude do título praticamente
certo deste ano. Já a equipe masculina joga com o escudo sem estrela nenhuma
(algo que não deve mudar tão cedo).
Japão e Noruega têm uma estrela solitária cada e as atletas
da Itália e Argentina jogam com uma camisa livre de estrelas – as equipes
masculinas desses países contam com quatro e duas estrelas respectivamente.
Então o que ocorre com o Brasil? Curioso para entender se
isso era de fato um menosprezo ao futebol feminino do Brasil e uma reverência
ao que seria a Seleção de fato “importante” para a CBF – a masculina – fui lá
no estatuto da CBF para ver se há alguma coisa lá que esclareça isso e tire a
ideia de que trata-se de uma medida de cunho sexista.
Dá para baixar o estatuto em PDF no site da CBF e, apesar de uma marca
d’água enorme com as palavras “EM REVISÃO” estar presente em todas as páginas,
as regras aí explicitadas são o que valem até segunda ordem. Essa tal segunda
ordem deve vir brevemente porque recentemente a instituição revelou que estaria
revisando o clássico escudo, e o resultado foi isso que vemos aqui embaixo:
De modo geral, não foi muito bem recebido, tendo sido
descrito pela internet como “torto”, “desequilibrado” e “incompleto”, entre outros adjetivos
pouco elogiosos. Mas a apresentação de uma nova
identidade visual explica o porquê do estatuto da CBF estar “em revisão” e
indica que algumas das regras imutáveis na publicação podem estar sujeitas a
mudanças.
Digo isso porque o Artigo 8°, que diz respeito ao escudo e
estrelas, cita que:
“o emblema, com o formato já consagrado pelo uso, é azul com a borda amarela
com um friso azul, cortado em cruz por duas listras verdes com frisos amarelos,
contendo ao centro uma cruz de Malta branca, com a sigla CBF, sobre a haste
horizontal da mesma cruz, em cor azul, figurando na parte
inferior a palavra Brasil em cor verde e na parte superior o número de
estrelas representativas de conquistas de Campeonatos Mundiais, em cor verde.”
É possível que isso seja alterado no novo estatuto, mas, até
que isso aconteça, o que vale é que, independentemente da seleção ser masculina
ou feminina, as estrelas sobre o escudo devem sempre representar o “número de
conquistas de Campeonatos Mundiais” da CBF.
Ou seja, como os meninos contam com cinco conquistas e as
meninas com zero, tanto eles quanto elas devem jogar com cinco estrelas. MAS,
caso o improvável aconteça e a seleção feminina consiga levar essa Copa do
Mundo, aí tanto a equipe feminina quanto a masculina terão, obrigatoriamente, que
jogar com SEIS estrelas sobre o escudo. Tá no estatuto.
Confesso que, quando li isso, fiquei um pouco aliviado pelo
fato de que a seleção de futsal ou futebol de areia não são administradas pela
CBF, mas sim pela CBFS e pela CBSB, respectivamente, porque se estas seleções também
fizessem parte da CBF, o Brasil teria acima do escudo cinco estrelas
pelas conquistas da seleção de futebol de campo, mais cinco pela equipe de
futsal (isso sem contar outras duas de quando o campeonato ainda não era
administrado pela FIFA) e mais cinco da seleção de futebol de areia, num total
de 15 (ou 17) estrelas, o que deixaria o escudo da CBF parecido com o do Boca
Juniors.
Felizmente, de acordo com o estatuto, estamos limitamos às
conquistas da seleção masculina e feminina de futebol de campo e, até agora,
isso significa “apenas” as cinco estrelas da seleção masculina. Mas, mesmo como
fiel torcedor da Alemanha, confesso que eu gostaria muito de ver qual a postura
da CBF caso as meninas levassem esta Copa do Mundo.
Será que a instituição incluiria essa nova estrela na camisa
de Neymar e companhia lá no Catar? É o que o estatuto manda (lembrando que ele
está SOB REVISÃO). Seria uma espécie de “cala-boca” geral para todos que – a
meu ver com uma certa dose de razão – estão chamando a CBF de machista e
sugerindo que a confederação não dá a mínima para o futebol feminino.
A CBF mostraria que liga sim para as atletas da seleção brasileira, e que liga
tanto que não faz distinção entre as conquistas masculinas e femininas – é tudo
título do Brasil e, como tal, deve ser celebrado tanto pelos homens quanto pelas
mulheres.
Agora, só entre nós? Você honestamente acha que isso vai
acontecer?