quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O PRIMEIRO DIA DO RESTO DE NOSSAS VIDAS

"Motorista... quando eu der o sinal acelera, mas vai com calma.
Quero ver quantos quilômetros a gente consegue fazer antes que
esses engravatados desistam de correr atrás da gente."


Ano novo, presidente nova.

Iuhu.

Assisti à posse como muita gente, buscando algo intelectualmente neutro para aplacar os abusos etílicos da noite anterior, mas tenho que admitir que não deu certo, porque a cena toda me irritou profundamente.

Dias antes, havia lido algo na cada vez mais indispensável revista “Aventuras Na História” que me fez querer postar. Acabei não postando por preguiça, mas depois da cerimônia da posse, revi meu marasmo e decidi escrever um pouco sobre o assunto (notem que estamos no dia 5, o que denota claramente o quanto estas férias estão me impedindo de fazer qualquer mísero esforço intelectual).

De qualquer forma, a reportagem em questão se chama “O Presidente Sem Cerimônia” e conta como foi a posse do primeiro presidente civil da história do Brasil – Prudente de Moraes.

Eu sabia do fato, mas não dos fatos que tornaram a posse tão pitoresca.

O militar antecessor do presidente, Floriano Peixoto, nem sequer apareceu no Executivo para que houvesse uma sucessão. Além disso, quando Prudente chegou ao Rio de Janeiro, não havia ninguém para recebê-lo, obrigando-o a recorrer a um amigo para levá-lo ao hotel. O novo presidente ainda teve que pagar pelo seu almoço e pedir uma carona ao representante da Inglaterra para levá-lo ao Itamaraty.

Ao chegar, ele encontrou o palácio abandonado, com os móveis rasgados pelos baionetas dos militares, que se despediam do poder amargamente.

Resumindo: cerimonial de BUESTA.

Mas o que isso tem a ver com a posse da Dilma, 117 anos depois?

Pois é. Apesar de não ter votado nela (o que provavelmente torna a posse dela CULPA SUA), eu esperava ao menos que a cerimônia fosse algo que traduzisse de maneira precisa a magnitude do momento histórico que estamos presenciado.

Afinal, é primeira mulher presidente da história do País, além de se tratar de um clamor da maioria da população pela continuidade de um governo que está aí há oito anos, com índices de aprovação nunca antes vistos.

Eu esperava pompa, circunstância, algo emocionante.

O que eu vi, porém, foi algo de que Prudente provavelmente não consideraria um "upgrade".

Em primeiro lugar, os personagens principais – Lula e Dilma – ficaram o tempo todo cercados por uma horda de assessores, repórteres, fotógrafos e afins, que não mostravam a menor compostura e decoro pelo momento que estavam vivendo.

Ora estavam batendo papo alegremente, ora atrapalhando os outros, ora conversando com outra pessoa pelo celular... tudo a poucos metros – talvez centímetros – da nova governante de seu país, bem no momento em que ela estava fazendo história.

Resumindo, ao rever as fotos em que ela estiá vivendo o ponto alto de sua vida, a Dilma provavelmente verá ao seu lado um parlamentar gordo e feio que ela nem mesmo saiba o nome, urrando alguma coisa no seu celular. E esse mané vai entrar para a história junto com ela.

Mas o cerimonial seguiu e, em determinado momento, ela conseguiu escapar da corja toda para dar uma volta pelo Planalto no Rolls Royce presidencial acompanhada pela sua filha.

Só que o carro foi cercado por um grupo de uns 10 agentes especiais que CORRERAM o percurso todo.

Nada de motos ou outros automóveis seguindo o carro dela - os agentes CORRIAM como maratonistas de terno e gravata ao lado do carro... e o trajeto para a gente que assistia à transmissão parecia INTERMINÁVEL.

Argumentaram que os seguranças estavam a pé com o intuito de desviar o foco de qualquer um que quisesse atirar contra a nova presidente. Mas o fato é que todos estavam com ternos pretos e ela TODA DE BRANCO, além de estar DE PÉ num carro ABERTO.

Cabe lembrar que nem o Lee Harvey Oswald teve tanta colher de chá na hora de atirar contra o Kennedy, porque o presidente pelo menos estava sentado na hora do atentado.

Aí o carro parou, para o alívio dos seguranças e de quem estava assistindo, e a cerimônia continuou como planejada.

Até a hora em que a Dilma recebeu os cumprimentos dos principais líderes de governo de todo o mundo, que haviam dispensado o feriado do dia 1º de janeiro para estar aí.

Depois de uns 6 ou 7 representantes, os comentaristas da Globo começaram a se perder e não sabiam mais quem estava cumprimentando ela.

A solução deles foi DESCONVERSAR e falar sobre alguma amenidade, na vã expectativa de que a gente não percebesse que os caras não tinham a menor ideia do que estava acontecendo.

Na verdade, a gente quase não percebeu mesmo, porque era tamanho o aglomerado de fotógrafos e cinegrafistas restritos a um canto do salão, que vira e mexe aparecia a parte de trás de uma CABEÇA tomando toda a tela toda da Globo, impedindo a gente de ver o que estava acontecendo.

Aí, em meio à posse presidencial, tivemos a rara oportunidade de ver uma mão do cinegrafista injuriado dando um belo tapa na nuca do invasor para que ele se movesse um pouco para a direita e desobstruísse a imagem da câmera.

CRASSE NO ÚRTIMO.

Mas lastimável mesmo foi a Globo de repente decidir interromper sua transmissão, no meio do cerimonial.

Intrigados com o ocorrido, mudamos de canal para a Record e vimos o mau e velho EDIR MACEDO, dono da emissora, prestando seus votos de sucesso à nova presidente, segundos depois que sua maior concorrente decidiu INTERROMPER a transmissão.

OK, OK... pode ser que seja COINCIDÊNCIA, mas vamos combinar que não foi?

Foi simplesmente o episódio que viria a coroar uma posse que foi remendada do começo ao fim, refletindo um despreparo e uma inacreditável falta de ordem e de bom senso que, se paramos para pensar, foi exatamente o que tornou a posse de Dilma Rousseff possível neste País.

Mais uma vez: a culpa não é minha.

Um comentário:

Mark disse...

Nossa. Esse dia tá tão chato que decidi dar uma olhadinha no blog.
Não ajudou nem um pouco. Deu mais sono ainda.
VERIFICAÇÃO DE PALAVRAS: ingradvw
WTF, Homo sapeins, WTF?