sexta-feira, 12 de junho de 2009

GOD IS OVER THE RAINBOW

Sempre considerei excessiva a famosa frase “Clapton is God”, pichada nas estações do metrô londrinho no final dos anos 60. Ouvi muita coisa que o guitarrista inglês gravou e é inegável que tem muita coisa boa. Mas daí pra essa idolatria toda, sinceramente nunca entendi.

O Clapton sempre me pareceu um “guitarrista para não-guitarristas”. Aquele cara que quem não se entende muito acha que é cool gostar, por ser um guitarrista que todo mundo conhece. Não que eu esteja dizendo que ele é ruim, muito pelo contrário, mas definitivamente não integra a minha lista de Top 10.

“Bom. Mas e daí?” você pergunta. E daí que exatamente na mesma época que ele era aclamado como deus, começava a carreira de outro guitarrista britânico, que por sinal tocou na mesma Yardbirds que lançou o Clapton: o Jeff Beck.

Os dois tocaram na mesma banda, tiveram formação bluesística, usavam o mesmo tipo de guitarra – a Stratocaster – mas ninguém em toda a história tirou da guitarra um som parecido com o que o Beck tira.

Ele se utiliza de todo e qualquer recurso para fazer um som completamente único: abusa dos bends, dos volume fades, faz harmônicos, slides, gargling e tem uma maestria tão absoluta no uso da alavanca que faz o mais ateu dos ateus pensar duas vezes, porque é praticamente impossível alguém fazer o que o Beck faz sem algum tipo de intervenção divina (brincadeirinha...)

Tendo começado no blues, ele foi ao fusion, ao pop, ao eletrônico, passeou por quase todos os gêneros musicais, incluindo reggae e música tradicional búlgara(!), com sensibilidade e elegência únicas. E fez tudo com uma personalidade tão particular que, com uma única nota, a gente percebe na hora que é ele é que está tocando.

Este domínio do instrumento é algo que o Clapton não tem. Apesar de ter feito algumas músicas realmente muito boas, como “Cocaine”, “Crossroads”, “Sunshine Of Your Love”, etc., o fato é que tudo é meio previsível. Os solos são bons, a música meio “popzinha”, e pronto (e olha que não estou nem comentamdo a fase unplugged do cara porque... francamente... haja saco!). Mas é um cara que é guitarrista, tocando umas musiquinhas divertidas e... that’s it. Então, o que o Clapton fez de tão divino que lhe faça merecedor do grafitti londrino?

Vamos combinar? Nada, né?

Mas e se o grafitti tivesse o nome do Beck? Aí, a coisa começa a mudar de figura. Afinal, o Eric Clapton é um ótimo guitarrista de blues, mas o Jeff Beck é um gênio musical.

Gênio a ponto do Brian May, o fenomanal guitarrista do Queen, dizer que, apesar de ser fã de carteirinha do Jimi Hendrix, a música de guitarra que ele considera suprema é “Where Were You”, que o Beck gravou no disco “Guitar Shop”. De fato, se você nunca ouviu isso, é algo de arrepiar até a unha do pé (sei lá se isso fez algum sentido). A música, um dueto de guitarra e teclado, é intimista, emocional e de uma beleza e intensidade tão incríveis, que fica até difícil entender que estamos simplesmente ouvindo um cara tocando guitarra. Parece algo de outro planeta.

Ele não pensa no instrumento como uma guitarra do ponto de vista convencional. Pensa como um maestro pensa sobre sua orquestra, espremendo da sua Strat uma variedade instrumental que transcende qualquer utilização do instrumento até então.

Ao ouvir uma música do cara, percebemos que não é uma guitarra que estamos ouvindo. É a própria alma do Beck.

Ela chora, ela grita, ela ri, ela hipnotiza.

Ninguém, em todo o mundo, já fez algo remotamente parecido com o que o Jeff Beck fez com sua guitarra. E, por isso, se alguém merece ser chamado de Deus, é um cidadão britânico chamado Geoffrey Arnold Beck.

Sei que nenhum de vocês que estão lendo vão fazer isso, mas recomendo o seguinte: baixem a discografia do Jeff Beck, ou pelo menos a “Beckology”, uma excelente compilação que ele lançou em 1991 e deixem o cara surpreender vocês.

Coloquei abaixo um videozinho de uma música que todo mundo conhece, só que na versão do Beck.

Sabem a “Somewhere Over The Rainbow”, do Mágico de Oz? Então. Dêem só uma ouvida no que esse cara faz com a música.


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