terça-feira, 19 de maio de 2009

TUDO QUE VOCÊ PROVAVELMENTE NÃO QUERIA SABER SOBRE "BLACK CLOUDS & SILVER LININGS" DO DREAM THEATER, MAS QUE EU VOU CONTAR MESMO ASSIM

Viram só como lá fora funciona? Vagabundo que excede o limite
de 120 notas
musicais por segundo vai PRO XILINDRÓ MESMO!

Tive a oportunidade de ouvir na íntegra o novo Dream Theater – “Black Clouds & Silver Linings” e, como prometi no post do dia 21 de março, aqui vai um resumo das primeiras impressões do disco. Só um aviso antes: se você não gosta de Dream Theater, acho que vai gostar ainda menos deste post. Depois não diga que eu não avisei.

Aos que permanecem, vamos ao disco: de modo geral, curti bastante. São ao todo apenas seis músicas, o que, pra quem conhece bem o estilo do Dream Theater, significa músicas ultrapassando a marca dos 10 minutos.

Pra quem gosta, é um prato cheio. E, como eu sou um dos que gosta, quase tive uma indigestão pela forma como devorei o disco.

A banda como um todo toca de forma coesa e pesada, mesclando várias texturas sonoras com riffs violentos, mudanças de ritmo e harmonias interessantes. Não vou fazer uma análise aprofundada de cada música porque sei como é CHATO BAGARAY ler análises aprofundadas de músicas que a gente nunca ouviu. Mas vamos ao que me chamou atenção em cada uma delas:

1. A Nightmare To Remember: a música que abre o álbum já vem com um riff forte e uma bateria violenta em que o Mike Portnoy não economiza nos bumbos duplos. Apesar do peso, a música começa sem grandes novidades ou esquisistices, mas a parte central possui uma belíssima seção acústica que emenda num emotivo interlúdio, num trecho que me lembrou a fase do “A Change Of Seasons”. Além disso, temos os já costumeiros trade-off solos entre o Petrucci e o tecladista Jordan Rudess, que, por algum motivo parece não ter enfiado nenhuma de suas habituais “gracinhas musicais” que só ele acha engraçadas no meio das músicas. Temos ainda alguns trechos “cantados” pelo Pornoy, numa levada quase nu-metal, com urrinho guturral e tudo mais, e isso proporciona aquela boa e velha sensação de vergonha alheia, mas que não chega a comprometer a música como um todo. Legal também o riffzinho que o Petrucci emenda depois do urrinho do Portnoy, com direito a sweep e tudo. Bacana.

2. A Rite Of Passage: a primeira coisa que passou pela minha cabeça quando ouvi esta música foi o disco novo do Metallica – “Death Magnetic” – e em especial a música “Cyanide”, com sua levada meio oriental e riff forte e marcante. A guitarra aqui é muito grande e competente, dando um peso bem – éhm – pesado à música. Boas harmonias de guitarra no refrão dão um toque inesperado, mas que combinam bem com a música. Depois, segue uma parte instrumental que parece ter vindo daquela “The Root Of All Evil”, só que com um pouco menos de PUNCH.

3. Wither: momento BALADEENHA do disco. Nada contra baladas, ainda mais as do Dream Theater, já que a banda sabe fazer baladas belíssimas. Ou pelo menos sabia. A “The Silent Man” e “Hollow Years” não me deixam mentir, mas o resultado nessa “Wither” me pareceu meio pop-rock-emo demais. O refrão, cantado em dueto, é constrangedor. O Petrucci até tenta salvar o dia com um solo emotivo, mas digamos que a tentativa dele não dá em nada. Numa casca de noz, poderíamos dizer que esta seria a música que o Frezno escolheria se algum dia tivesse que fazer um cover do Dream Theater (mas, FELIZMENTE, eu sinceramente não vejo como isso poderia vir a acontecer).

4. The Shattered Fortress: mais uma das músicas que integram a chamada “12-Step Suite” (ou “AA Suite”), que o Mike Portnoy escreveu auto-biograficamente sobre o Programa de 12 Passos utilizado pela instituição Alcóolotras Anônimos para ajudá-lo a se livrar do vício do alcoolismo. Pra quem não sabe, ao longo dos últimos quatro discos do Dream Theater, sempre havia uma música que fazia parte dessa suíte. A primeira foi a “The Glass Prison”, do disco “Six Degrees Of Inner Turbulence” e a última é esta que saiu agora, no “Black Clouds & Silver Linings”, sendo também a última música da saga. O interessante é que todas as músicas “conversam” entre si, mantendo elementos em comum, e quando você ouve as 5 na sequência, a sensação é que está ouvindo uma única “musicona” de 57:16 minutos. O legal é que essa “musicona” foi gravada ao longo de 7 anos e em 5 discos diferentes. E esta que é a última parte da suíte faz uma grande salada das partes anteriores, fechando a obra de forma interessante e impactante. O Dream Theater diz que vai lançar um disco ao vivo em que a suíte será tocada em sua íntegra, na sequência. Aguardo ansiosamente.

5. The Best Of Times: mais um momento mais light do disco. Gostei muito mais do que a BALADEENHA “Wither”. Ela conta com uma introdução instrumental singela, com o tema do refrão tocado num violino chorado que não ficaria muito deslocado se estivesse na trilha sonora do “A Lista de Schindler”. Após a introdução, temos a impressão que o Alex Liefson do Rush entrou no estúdio e decidiu tocar um pouco. Depois a balada segue com uma levada daquelas músicas mais lentas do Dream Theater no começo da carreira, o que não é uma coisa negativa. Aí seguem-se texturas diferentes, mas todas altamente tocáveis na rádio. É o momento “Octavarium” do disco, com um refrão de melodia simples, bonita e envolvente, refrão este que é depois replicado pela guitarra do Petrucci e pela “orquestra” do teclado do Jordan Rudess, o que transforma a música em uma espécie de hino, como eles fizeram com o final do Octavarium (que, por sinal, Mamãe acha linda). Música interessante.

6. The Count Of Tuscany: quase 20 minutos de música. Muita coisa acontece ao longo desta, incluindo muitos trademarks do Dream Theater: solos tocados em unissono pelo Petrucci, Rudess e o Myung, frases “faladas” na mesma levada do “Octavarium”, aquele tecladinho sincopado que o Rudess fez ao longo do “Scenes From A Memory”, riffs pesados e complexos, solinho etéreo de notas choradas à la Yes no meio da música, dueto de voz e violão acústico e até um “wo wo wooo woo ooooh” que deve ter sido colocado na música pra incentivar a participação da platéia nos shows. Não que eu não tenha gostado da música, mas acho que preciso ouvir mais vezes até ter opinião formada sobre ela, como aconteceu com o “Octavarium”. Em todo caso, nota-se logo de cara que ela possui trechos que consigo me ver assobiando sozinho no trânsito sem perceber (ou, pior pra quem trabalha comigo, na agência sem perceber).

Enfim, assim encerra-se o décimo álbum de estúdio desta banda que é idolatrada por alguns, odiada por muitos e respeitada por qualquer músico.

Primeira impressão mais do que positiva, muita coisa bacana acontecendo, muitos momentos que integrarão a galeria de “classic moments” do Dream Theater e prova de que os caras ainda têm lenha pra queimar.

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