domingo, 5 de julho de 2009

BAIRRO BIZARRO

Passeando de carro hoje pela manhã, me dei conta que meu bairro não é bem o que podemos chamar de “lógico”.

Os nomes das ruas de São Paulo costumam ter algum tipo de conceito por trás. As ruas da Vila Romana, por exemplo, remetem à Roma Antiga, com nomes dignos de qualquer filme épico dos anos 50 – Espártaco, Tito, Vespasiano, Marco Aurélio, etc.

Aí temos a Moema, dos passarinhos Rouxinol, Cotovia, Canário, Gaivota e outras criaturinhas emplumadas.

Temos Indianópolis, com seus nomes indígenas – Iraí, Aratãs, Arapanés, Tupiniquins, etc.

E aí temos o meu bairro – o Sumaré – que possui uma sequência de ruas que desafiam qualquer tipo de raciocínio lógico.

Estava eu pela Apiacás e comecei a perceber as ruas que ia cruzando: Alfonso Bovero, Capital Federal, Havaí, Pedro de Toledo, Herculano, Paracué... todas na sequência e sem qualquer tipo de relação entre si.

Nos meus tempos de escola, um professor desafiou a gente a um jogo de frases “non-sequitur”. Cada um falava uma frase ou palavra e o seguinte tinha que dizer algo que não tinha nenhuma relação com o que havia sido dito anteriormente. Parece fácil, mas não é, porque nosso cérebro tenta sempre dar sequência a um raciocínio lógico, mesmo que a gente não queira. Por mais que você tente pensar em algo totalmente não-relacionado ao tema anterior, alguma coisa sempre acaba escapando.

Mas, aparentemente, não no Sumaré.

Se por um lado as ruas perpendiculares à Heitor Penteado seguem a cartilha de Indianópolis e homenageiam tribos indígenas, os nomes das ruas que cruzam estas “tribos” não têm qualquer relação entre si e parecem ter sido escolhidos aleatoriamente.

Acho que a única outra coisa tão “non-sequitur” quanto as ruas do meu bairro é a forma como minha mãe decidiu nomear seus sete (sim, SETE) cães. São eles: Errol Flynn, Mia Farrow, Robert de Niro, Arnold Schwarzenegger, Mel Gibson, Sofia Loren e... Laika. É quase como ter cinco filhos e chamá-los de Humberto, Doisberto, Tresberto, Quatroberto e Loxas.

De qualquer forma, eu gostaria de entender os motivos pelos quais as paralelas à Heitor Penteado não fazem parte de um “grupo lógico” de ruas e dei uma pesquisada na internet.

Infelizmente, não achei nada muito conclusivo sobre o tema, mas encontrei algumas coisas interessantes sobre meu ex-bairro, o Itaim Bibi.

Eu sabia, como qualquer um que já tenha visto algum daqueles painéis no Extra Itaim, que o bairro todo havia sido uma chácara e que, ao longo dos anos, ela foi sendo loteada até se tornar um bairro. Mas algumas coisas eu não sabia.

Descobri, por exemplo, que o Leopoldo Couto de Magalhães – aquele mesmo que dá o nome à rua em que hoje se encontra o Extra (para os saudosistas, o endereço do antigo Mappin) – foi o primeiro a fixar residência na região que, até então, era um local destinado apenas à caça e pesca, dadas as características inundáveis das terras.

O nome da chácara era Itahy, que significa “pedra pequena” em tupi, e Magalhães teve um filho a quem todos os empregados chamavam de Bibi (bebê).

Ao longo dos anos, o garoto cresceu, mas o apelido ficou e acabou se atrelando ao nome da chácara Itahy (que todos pronunciavam como “Itaim”) para diferenciar a região do Itaim Paulista. Com isso, nascia o bairro do Itaim Bibi.

Outra curiosidade interessante que descobri foi que a Rua João Cachoeira é em homenagem ao um empregado da família Couto Magalhães que costumava cantar e e contar causos na região. Imagino que nem nas suas mais fantasiosas histórias ele imaginava que acabaria virando nome de uma das mais emblemáticas ruas da cidade.

E o que é mais mais louco: tudo aconteceu há míseros 100 anos. Antes disso, o bairro em que nasci e vivi grande parte da minha vida simplesmente não existia. Era só mato.

Quem diria, hein? De uma sequência de ruas “sem sequência” acabei desvendando uma história sobre o lugar que durante décadas fez parte integrante da minha vida e de meus familiares. E a gente nem desconfiava...

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