sábado, 12 de junho de 2010

EMBAIXO DO MASP

"Hmmm... ainda nada. Talvez se eu descer mais um nível
eles estejam me esperando lá no duto de esgoto..."


Uma de minhas mais, digamos, clássicas características é uma notória falta de senso geográfico.

Moro em São Paulo desde que nasci e ainda me perco pela cidade, como é de conhecimento de alguns leitores deste blog. Um episódio em particular foi tão emblemático que eu acho correto relatar aqui, até em respeito a um dos meus poucos leitores, que acabou sendo protagonista desta pequena falha de interpretação (de acordo com o meu ponto de vista) ou COMPLETA DEMONSTRAÇÃO DE IMBECILIDADE (de acordo com o dele).

Marcamos de ir no sítio de um amigo para o fim de semana. Na época eu não tinha carro, então Meu Amigo Zoca* sugeriu que eu esperasse pelos integrantes do churrasco “às 8 horas da manhã EM PONTO, embaixo do MASP.”

Eu morava na Rua Ouro Branco, uma travessa da Estados Unidos, entre a Pamplona e a 9 de Julho. Pra quem não sabe, a Pamplona é uma travessa da Paulista, quase na altura em que fica o MASP. Mas, apesar de ter ido ao MASP uma vez quando criança, eu não tinha a mais remota ideia de onde era. Então Meu Amigo Zoca*, entre um palavrão e outro, me disse era só subir a Pamplona até a Paulista para encontrar o MASP e, chegando lá, esperar embaixo do museu pela carona.

Duas coisas ficaram na minha cabeça neste dia: o horário e a localização.

Eu sabia que tinha que estar lá às “oito horas da manhã, EM PONTO” e que o local era “EMBAIXO DO MASP”.

Então, sábado pela manhã, lá fui eu pela subida cruel que é a Pamplona sentido Paulista, até chegar à avenida que é até hoje símbolo máximo desta cidade. Olhei pra esquerda e avistei o MASP. Eram 7h55. Eu havia conseguido.

Esperei no vão livre do MASP por mais 15 minutos e nada. E aí comecei a achar que algo poderia estar errado. Porque o Meu Amigo Zoca*havia sido muito CATEGÓRICO quanto ao horário. Tinha que ser 8h00 EM PONTO. E lá estava eu, e nada acontecia.

Passados mais 5 minutos, começou a bater um certo desespero: “Será que eu estava no lugar certo?”

Tudo bem que eu sabia que este era o MASP. Mas e o “debaixo do MASP” que Meu Amigo Zoca* havia citado de forma tão contundente? Estaria eu NO MASP e não EMBAIXO DO MASP?

Após momentos de deliberação, percebi que eu poderia ter interpretado errado a mensagem do Meu Amigo Zoca* e estava esperando pelo carro no local errado. Se fosse pra ser NO MASP, ele não teria me dito EMBAIXO do MASP. Evidentemente, ele se referia à rua que desce pela lateral do museu e acaba desembocando na 9 de Julho. Era lá que ficava (ou fica) o Bar Opção, um lugar que tanto eu quanto o Meu Amigo Zoca* frequentávamos muito mais que o próprio MASP.

Então lá fui eu, carregando minha mala, descendo pela rua que é a continuação da Al. Casa Branca (não lembro o nome), até parar no Opção.E lá estava o MASP em cima e eu embaixo dele.

(Curiosamente, até escrever isso neste blog, nunca havia me passado pela cabeça o fato de que, se fosse este o ponto de encontro, Meu Amigo Zoca* provavelmente teria marcado simplesmente no BAR OPÇÃO em vez de usar uma expressão de interpretação tão dúbia quanto “EMBAIXO DO MASP”. Mas, na época, não pensei nisso. Então fiquei lá esperando. Sozinho.)

10 minutos se passaram e nada. Então, comecei a pensar que talvez eu estivesse no lugar errado, DE NOVO. Mas como? E foi aí que, ao ver o túnel da 9 de Julho, minha mente se abriu.

É CLARO que eu não estava embaixo do MASP. O MASP estava acima, mas à frente. Eu havia de fato me AFASTADO do MASP. À medida que eu descia pela rua em direção ao Opção, eu estava ao mesmo tempo ficando mais distante do ponto em que o MASP ficava no mapa. Com isso, tudo ficou incrivelmente claro: eu tinha que estar EMBAIXO do MASP e não DO LADO dele.

E a única forma que um carro poderia estar LITERALMENTE embaixo do MASP para me pegar seria se ele estivesse DENTRO DO TÚNEL 9 DE JULHO. Na Paulista ele estaria DO LADO do MASP, e não EMBAIXO dele, como vocês podem ver pelo mapa abaixo:


Então me virei, peguei minha mala e comecei a longa e árdua caminhada até a Av. 9 de Julho, pensando no quê um pedestre teria que fazer para adentrar aquele túnel que fervilha com carros em alta velocidade.

E foi aí que ouvi um urro vindo de cima, bem da região da Paulista que eu havia abandonado anteriormente.

“Eu sabia! Eu sabia! É só o MAIOR VÃO LIVRE DO MUNDO, mas não! É CLARO que você ia achar que AQUI é embaixo do MASP! Claro!”

Em um misto de vergonha e mais vergonha ainda, fui subindo pela Al. Casa Branca em direção à Paulista enquanto ouvia os urros inconformados de Meu Amigo Zoca*, visivelmente alterado.

Os carros do comboio haviam chegado ao MASP um pouco atrasados, minutos depois de minha descida ao Opção, e todos ficaram esperando por mim. Parece que foi assim durante alguns minutos e ninguém sabia se eu vinha ou não (na época, não existiam celulares).

Aí, sabendo que eu havia confirmado a viagem, Meu Amigo Zoca* de repente viu a rua que desce ao lado do MASP e pensou: “Será?”

Deu dois passos em direção à Casa Branca e parou: “Não, não...”

Deu meia-volta e andou em direção ao já impaciente grupo e, com a pulga atrás da orelha, parou de novo: “Será?”

Aí se virou, falou para o grupo que ia ver uma coisa e desceu pela Al. Casa Branca determinado a provar que seu palpite estava errado.

E me encontrou exatamente no momento em que eu me dirigia rumo ao túnel.

Meu Amigo Zoca* não ficou muito feliz naquele momento, e o ocorrido de fato atrasou a viagem em quase meia hora.

Mas fica aí a lição de que, ao passar instruções para as pessoas, EMBAIXO É EMBAIXO e DO LADO É DO LADO.



* Para preservar o indivíduo em questão de prováveis danos à sua reputação em virtude de suas quase sempre questionáveis atitudes éticas e morais, o nome de Mark Damian Ament será substituído neste blog pelo pseudônimo “MEU AMIGO ZOCA”.

4 comentários:

Anônimo disse...

Acho que é por isso que você torce para a Alemanha. Sua mente é tão, tão lógica que chega a ser BURRA.
Sem ofensas.
Que bom o seu amigo Zoca* te conhece tãoooo bem, ou você teria cavado um buraco.

Mark disse...

HAHAHAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAHAHA
ai ai, jovens

Bugz disse...

Essa é uma das pérolas, mas ainda acho que a minha preferida (por ter tido a chande de ser um dos coadjuvantes) é a da festa da nossa amiga Cris.
Essa é uma que você precisa descrever também.

Malcolm disse...

Bem ate ai estao faltando as perolas como o teste pessoal da pasta de dente que poderia ser atropelado por um carro mas e so o Charles pisar que explode.

O caso na ilha tropical e , pasmen, "olha que o Charles FEZ!!!"

E que tal o encontro na Churrascaria OK que era pra ser no almoco mas......